segunda-feira, 4 de maio de 2009

O cara da praça XV...

Já não é de hoje que mantenho uma relação estreita com essa parte do Rio. Tem gente que gosta da noite na Lapa, outros preferem a badalação do Leblon. Eu pareço interminavelmente preso a Praça XV. Quer, dizer, não vejo isso como ruim...

A primeira vez que saltei na Praça XV, tinha que encontrar uns caras pra montar uma banda, e me sentia uma formiga, olhava a volta e não via nada, absolutamente nada de familiar. Mas, foi nesse dia que vi pela primeira vez o cara que tocava blues na saída das barcas. Eu tinha que encontrar os tais caras, mas a verdade é que podia ser em qualquer canto da Praça VX, eu tinha apenas que esperar. Fiquei horas, ouvindo e vendo, um cara com seus 48 ou 50 anos, tocar uma velha Fender creme plugada num Fender Twin como se fosse morrer a qualquer momento. Ele tinha um som com um cd backing track ligado, e uma estantezinha com seus CDs a venda. Eu não tinha grana no bolso... Mas, me repeti, algumas vezes dentro de mim, que se tornasse a vê-lo compraria seu CD! O que eu mais achava legal de tudo aquilo, é que ele não tinha público, ele tocava pra ele mesmo. Para outras pessoas, aquilo era parte da trilha sonora da Praça XV, similar aos gritos, falatório, batidas de carro e alto falantes das barcas. Mas, pra mim aquilo era mais que música. Uma guitarra no colo, um chapél no chão e um semblante abatido de só quem vive de música no brasil pode ter... aquele semblante de que as contas estão vencendo e o dinheiro não esta entrando. Mais do que isso, semblante de quem já perdeu alguns amores na vida, semblante de quem já abandonou alguém e foi abandonado por si mesmo. Ele não precisava dizer : ''É difícil ser músico...'' , ou ''Nasci no país do samba, meu blues não serve aqui....''. As pessoas diziam isso por ele, sem palavras, com gestos como ajeitar o cabelo, falar ao celular, chamar um táxi, sem sequer olhar pro velho guitarrista. O mais irônico é que ele tocava uma música que falava disso, de quão dispersas as pessoas passavam por ele, era uma das faixas de seu CD, na verdade. Vai ver essa é a forma original da música, poder fazê-la em qualquer lugar, a qualquer hora, com ou sem público. Eu tornei a vê-lo no metrô, na Carioca, Na central... Achava que a próxima vez que passasse por ele, compraria o tal CD, mas nunca comprei. Não sei quando o verei de novo, mas ei de comprar...

Um comentário:

Natália Kleinsorgen disse...

A Praça XV tem seus encantos. Tanto na sua arquitetura quanto pela qualidade dos personagens que encontramos por lá. A verdade é que não existe sempre tempo para apreciarmos. E mais do que isso, sabemos que o comum passa despercebido muitas vezes. Basta saber o que é comum.
Mais do que músicos, os caras da Praça XV são personagens de histórias brilhantes. Assim como qualquer um de nós, talvez com nossos 50 anos, mais.
Vamos um dia lá procurar algum desses pra conversar. É olhar nos olhos e aprender, com uma palavra ou duas, que só a experiência traz a tranquilidade necessária e a paz interior notória para tocar no centro do Rio, em meio a um burburinho que nos tira do sério, só de lembrar.